Em 2 de setembro de 2018, o Museu Nacional
do Brasil, o maior museu de história natural e antropológica do país, localizado
na Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro, ardia em chamas. Segundo peritos da
Polícia Federal, em relatório divulgado oito meses depois do ocorrido, há
indícios de que o fogo começou devido a um curto-circuito em um aparelho de
ar-condicionado que estava ligado a outros dois equipamentos por um mesmo
disjuntor. Tratou-se, claramente, de uma utilização inadequada levando à
sobrecarga, indo contra as indicações do fabricante, segundo a Polícia.
As condições das instalações elétricas não
eram as únicas degradadas no museu. Dono de um acervo de mais de 20 milhões de
itens, inclusive os remanescentes esqueléticos de Luzia, o fóssil humano mais
antigo de que se tem registro no Brasil e, possivelmente, nas Américas, datado de
entre 13.000 e 11.000 anos do presente. O Museu Nacional ainda sofria de
infiltrações, salas vazias por incapacidade de funcionar devido à
infraestrutura inadequada e falta de limpeza. Professores de pós-graduação
chegaram a pagar o deslocamento da equipe de limpeza para que acervos mais
sensíveis não fossem danificados pela sujeira.
O local, que funcionava num palacete que
serviu de residência à família real portuguesa entre 1808 e 1889 e foi fundado
por D. João VI, em 1818, há alguns anos passava por dificuldades financeiras,
quando não recebia o repasse necessário da União para a sua manutenção. Em
cinco anos, entre 2013 e 2018, as despesas pagas para o Museu Nacional pela
União, representada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, à qual o museu
estava vinculado, caiu de R$ 979.952,00 (2013) para R$ 98.115,00 (2018): uma
redução de aproximadamente 90%. Em 2018, ano do incêndio, o então Ministro da
Cultura, Sérgio Sá Leitão, afirmou que “certamente a tragédia poderia ter sido
evitada”. O que se pode dizer é que certamente vem uma pergunta à mente dos
brasileiros, diante desta declaração: como a tragédia poderia ter sido evitada
se não havia repasse de verbas para a manutenção e restauração do local? Neste
mesmo ano, não foi gasto nem um real para a compra de equipamentos e materiais
de segurança.
O caso do Museu Nacional do Brasil
demonstra a falta de importância dada à cultura no Brasil. O futuro do cenário
cultural e histórico brasileiro, mesmo diante desta tragédia de grandes
proporções, continua assustadoramente incerto. Se em 2018 havia pelo menos um
Ministério da Cultura que pudesse ter autonomia em possíveis regulações e
repasses, em 2019, com o novo Governo, este mesmo Ministério foi extinto, sendo
suas atribuições incorporadas no novo Ministério da Cidadania e Ação Social (o
qual também gere as atribuições dos Esportes).
Os brasileiros, e não só o Governo
Federal, também precisam valorizar mais a cultura do próprio país: em 2017,
registrou-se mais visitantes brasileiros no Museu do Louvre, em Paris, que no
Museu Nacional, no Rio de Janeiro. É realmente impossível não ficar desconfiado
em relação à preservação adequada da cultura brasileira para os próximos anos.
A negligência dos patrimônios culturais parte de todos os lados, por isso o
país precisa redobrar a atenção para a manutenção da sua rica história.
Figura 1. Museu Nacional sendo consumido
pelas chamas – Foto: Marcello Dias / Futura Press
Manuela
Bandeira de Mélo Vidal
Referências
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com segurança no Museu Nacional foi a zero neste ano. [Online]
Available at: https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/brasil/2018/09/04/interna-brasil,703786/gasto-do-museu-nacional-com-seguranca-foi-zero-neste-ano.shtml
[Acesso em 6 Abril 2019].
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