É necessário realçar a importância da cultura como factor de crescimento económico e regional, na perspectiva em que a “adequada valoração económica da criação e difusão dos bens culturais – de carácter amador ou profissional, artesanal ou industrial, individual e colectivo – converte-se, no mundo contemporâneo, num factor decisivo de emancipação, de garantia da diversidade e, portanto, numa conquista do direito democrático dos povos a afirmar as suas identidades nas relações entre as culturas e as regiões”.
Entende-se a cultura como uma área transversal às dinâmicas municipais dado que se apresenta, a par com a educação, como base estratégica para a partilha de valores, atitudes, mensagens e memórias, assumindo a ligação entre a tradição e a inovação, entre a memória e a criatividade, entre preservação e criação. Nesta dinâmica assume especial importância o papel das instituições culturais e das associações locais, bem como os agentes culturais, os artistas, os criativos e as pessoas em geral que contribuem para o desenvolvimento cultural e regional de um concelho.
O concelho de Barcelos é um exemplo de proactividade e uma combinação perfeita entre tradição, inovação e modernidade. Próximo de grandes centros, Barcelos, consolida-se como um dos concelhos mais empregadores em Portugal na indústria de transformação. Pólo de excelência têxtil tem neste sector um dos principais argumentos de empregabilidade, absorvendo quase metade da população activa, embora o calçado, a agricultura, a cerâmica e o turismo tenham também uma ponderação importante no concelho. Possuidor de espaços verdes como a Zona Ribeirinha, local próximo do centro da cidade que garante um perfeito equilíbrio entre a Natureza e o espaço urbano; o Castelo de Faria que apresenta vestígios de povoamento desde a Idade do Bronze até à Idade Média, tendo sido depois reconvertido em castelo românico; e o muito conhecido Jardim das Barrocas que foi construído durante o século XVIII para enquadramento do Templo do Senhor da Cruz. Um monumento a referir é o chamado Forno de Mouros que era um balneário da Idade de Ferro. Tinha uma função ritual ligada ao culto das águas. No seu interior foi encontrado um conjunto escultórico votivo onde pontuavam duas personagens e um touro. Às instituições culturais do concelho, em especial os serviços culturais do município – Biblioteca Municipal, Arquivo Municipal, Museu de Olaria, Gabinete de Arqueologia, Teatro Gil Vicente e Empresa Municipal de Educação e Cultura – cabe desenvolver as suas políticas de desenvolvimento local e regional e acções de acordo com o objectivo de cada instituição, numa dinâmica de articulação entre as diferentes áreas da cultura.
A Festa das Cruzes, que todos os anos acolhe milhares de visitantes, é um evento onde a tradição e a modernidade se encontram de forma perfeita para alguns dias de animação e religiosidade. Anualmente, todo a origem artesanal de Barcelos junta-se num só palco. A Mostra de Artesanato e Cerâmica de Barcelos é certamente uma das mais autênticas e ricas de Portugal. Ano após ano, esta exposição tem mostrado a renovação e vitalidade do artesanato concelhio. A Mostra de artesanato de Barcelos resume em si uma mística própria da terra de artesãos e de artesanato, onde o ambiente não figura um evento expositivo mas antes um espaço criativo de uma oficina de artesanato. É neste ambiente que se apresenta a identidade cultural do concelho de Barcelos que, com o passar do tempo, associou a sua vivência histórico-cultural à arte do barro e, em geral, à arte popular.
A Feira do Livro de Barcelos é um dos eventos de maior destaque cultural do concelho e considerada, por muitos especialistas, uma das melhores a nível nacional, contando com a presença de inúmeros livreiros e principais editoras do país. É marcada por um programa cultural bastante variado que inclui apresentação e lançamento de obras literárias, conferências e tertúlias com escritores barcelenses e nomes consagrados da escrita portuguesa, espectáculos musicais, teatro e animação de rua.
Detentor de referências de identidade nacional e regional, como é o caso do Galo de Barcelos, a feira semanal, que é considerada a maior da região Norte, a Rosa Ramalho e o artesanato, nem por isso ficou preso a estas marcas e evolui tornando-se numa cidade jovem, viva onde a inovação é uma realidade. Os monumentos são inúmeros e retratam uma história milenar, a paisagem sublime é marcada pela harmonia da acção do homem no meio envolvente, a tradição evidente… saberes e sabores distribuídos por 89 freguesias, num total de 380 km de encantos e recantos.
Apesar de todo o progresso e das transformações inerentes ao passar dos tempos, no Centro histórico de Barcelos é, ainda hoje, possível observar e percorrer o velho casco medieval, bem preservado, e que, deste modo, constitui uma singular paisagem urbana dotada de uma identidade única. A arte, a história e, essencialmente, as pessoas fazem de Barcelos um local ímpar e único que se destaca, assim, mesmo do contexto Minhoto onde se insere.
[artigo de opinião produzido no Âmbito da unidade curricular “Economia Regional” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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