domingo, outubro 23, 2011

Complexo das Sete Fontes em Braga: Monumento Nacional


As Sete Fontes são um sistema de abastecimento de água à cidade de Braga, localizado na freguesia de São Vítor. Este foi construído por ordem do Arcebispo Dom José de Bragança e data do início do século XVIII. Este ordenou que, a partir deste local, se fizessem as necessárias obras de engenharia hidráulica, para que fosse possível trazer, até à cidade de Braga, água potável. O seu caudal foi estimado em 500.000 litros por dia e esta obra abasteceu a cidade até 1913, quando a água do Rio Cávado chegou até aos reservatórios do Guadalupe. Ainda hoje, existem casas onde a água das Sete Fontes chega, e a maioria das fontes, fontanários e chafarizes da cidade ainda são abastecidas por este sistema. Quanto à sua estrutura, este complexo é constituído por sete fontes, em pedra adornada, com forma circular e tecto em abóbada. A conduta principal nasce na primeira mãe de água, e vai captando as águas provenientes das restantes minas e mães de água até ao Areal, onde existia a última mãe de água, que foi barbaramente destruída por uma construtora civil para dar lugar a blocos habitacionais, de qualidade questionável. O canal prossegue até ao actual Largo de São Francisco, onde também existia uma mãe de água distribuidora para as ruas da cidade, embora esta tenha também sido esmagada pelo que hoje em dia é um escritório de uma Companhia de Seguros.
Recentemente, os meios de comunicação social têm vindo a fazer referência a este sistema de abastecimento, pois dia 3 de Março de 2011 foi finalmente aprovado pelo Conselho de Ministros a classificação do Complexo Monumental das Sete Fontes como Monumento Nacional. Este foi um processo penoso, que quase caía no esquecimento das gavetas burocráticas do Ministério da Cultura. Felizmente, o Presidente da Junta de Freguesia de S. Victor, Dr. Firmino Marques, empenhou-se na defesa deste local e envolveu toda a comunidade, sendo que várias associações, entidades e pessoas se juntaram a este movimento de defesa, que resultou no processo de classificação das Sete Fontes como Monumento Nacional. Apesar deste sucesso, é de realçar que a Câmara Municipal de Braga sempre pareceu olhar para este complexo como um inconveniente. Esta tem fechado os olhos à destruição do património, facilita e até incentiva a especulação imobiliária na área envolvente, nunca desenvolveu qualquer projecto concreto para a salvaguarda deste espaço e chegou mesmo a criar obstáculos às acções de promoção e divulgação deste património pela própria Junta de Freguesia de S. Victor. Assim, se hoje o Complexo das Sete Fontes é um Monumento Nacional, isso deveu-se, essencialmente, ao trabalho desenvolvido pelos Autarcas da Freguesia e à pressão exercida pela população em geral, a nível local e nacional.
Desde a sua classificação como monumento nacional, registam-se até á data quatro incêndios nas Sete Fontes, sendo que existem testemunhas que garantem ter verificado que estes deflagram simultaneamente em cerca de cinco pontos distintos. São várias as vozes que se levantam contra a Câmara Municipal, acusando os seus órgãos superiores de estarem a “limpar” toda a área envolvente, para que se possa fazer aumentar, mais uma vez, o mercado imobiliário bracarense, sendo esta localização bastante apetecível e altamente rentável. Para além de nada fazer para preservar este património, de acordo com as mais recentes especulações, a Câmara nem permite aos bracarenses o usufruto daquilo que os seus antepassados legaram às gerações presentes. Por outro lado, o município perde também a oportunidade de receber ainda mais turismo de qualidade, alicerçado no património histórico da cidade, e de colocar a cidade no roteiro turístico de tantos estrangeiros que visitam o nosso país.
Infelizmente, e a acreditar nas notícias dos jornais locais, os bracarenses assistem, mais uma vez impotentes, a um filme que lhes soa familiar. O que se perspectiva é o facto de, mais uma vez, estarmos perante a perda de um pedaço de património, o qual se transformará numa urbanização ou num qualquer projecto imobiliário. No entanto, este caso permitiu, a meu ver, alterar um pouco a mentalidade da comunidade. Temos hoje uma cidade mais alertada, consciente e participativa, no que concerne à protecção das nossas heranças. Há hoje um maior empenho na protecção das nossas heranças e uma maior preocupação de legar esse património para as futuras gerações.

Telma Valdemar Azevedo da Silva

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Regional” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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