Fruto das permanentes alterações socioculturais, também a tipologia do turista se tem vindo a alterar, assim como as suas motivações e intenções. A crise financeira global tem vindo a reflectir-se em diversas áreas, e o turismo não é excepção, forçando os viajantes a adaptarem-se a esta realidade dinâmica. Um bom exemplo disso é o aumento drástico que se tem verificado no número de adeptos de promoções e de viagens a baixo custo. Por outro lado, a grande multiplicidade de factores que motivam os indivíduos a viajar traduz-se numa diversidade cada vez maior de tipos de turismo. Cada região ou país de destino apresenta também um grande conjunto de atractivos, pelo que a identificação dos vários tipos de turismo permite avaliar o nível de adequação da oferta existente e adaptá-la às motivações da procura, caso seja necessário.
Situado na Região Norte de Portugal, mais propriamente na Sub-Região do Cávado, o concelho de Braga constitui o coração do Minho e tem cera de 181.819 habitantes. Esta é uma cidade cheia de cultura e de tradições, onde se conjuga a História e a Religião com a Tecnologia e o Ensino Superior. Para além deste município não ser banhado pelo Oceano Atlântico, as praias fluviais existentes são reduzidas, com poucas condições de manutenção e com infra-estruturas insuficientes. Neste sentido, a estratégia que tem cada vez mais vindo a ser aplicada passa pelo desenvolvimento e estímulo do Turismo Cultural e Religioso, em detrimento do típico turismo balnear.
O Turismo Religioso, diferente de todos os outros segmentos de mercado do turismo, tem então como motivação fundamental a fé. Este está profundamente relacionado com o calendário e com os acontecimentos religiosos das localidades receptoras dos fluxos turísticos. Braga é, sem dúvida, demarcada por diversos factores impulsionadores deste tipo de actividade turística, que vão desde o vasto património cultural e histórico, até à elevada oferta ao nível de alojamento e à famosa e saborosa gastronomia minhota. Sendo uma das cidades cristãs mais antigas do mundo, Braga possui um vasto património religioso que abunda no seu centro Histórico, sendo o seu ex-libris a Sé Catedral de Braga. Podem-se destacar outros exemplares extraordinários da arquitectura religiosa como o Mosteiro de Tibães, o triângulo Bom Jesus – Sameiro – Falperra, a Igreja de São João do Souto, a Capela dos Coimbras, bem como diversos museus, jardins e outros espaços urbanos, de cultura e de lazer. Uma das suas principais tradições e festividades religiosas é a Semana Santa, havendo por esta altura um exponencial no fluxo de turistas, sobretudo nacionais e espanhóis e, cada vez mais, de outros países como a França e o Reino Unido. Os visitantes procuram essencialmente as grandes procissões nocturnas que se caracterizam pelas centenas de figurantes, nas quais se recriam quadros da história religiosa.
O presidente da Turel – Cooperativa de Turismo Cultural e Religioso de Portugal – destacou recentemente o “crescimento sustentado deste sector” e pediu “mais vontade política” para “apoiar projectos com potencial para catapultar a qualidade da oferta”. Para o presidente da Turel, o desenvolvimento do turismo religioso trata-se de um desafio que deve começar, antes de mais, numa mudança de mentalidade a nível local pois “quando a comunidade começar a perceber a riqueza que tem, a sensibilidade vai crescendo, para que depois a riqueza seja melhor cuidada e exposta e para que se acolha melhor quem vem”, concluiu.
A par do panorama nacional, investigações recentes dão conta do aumento da procura turística nacional e estrangeira também em Braga, sendo este aumento turístico baseado no interesse do visitante em conhecer mais sobre a história da cidade de Braga, provando que este tipo de turismo gera receitas, além de criar movimento humano, sobretudo no Centro da Cidade. É notável que, entrando, por exemplo, na Sé Catedral, seja cada vez mais frequente vermos grupos de diversas nacionalidades, acompanhados pelos seus guias intérpretes que vão contextualizando este monumento religioso. Até ao final de Agosto, foram 86.304 os turistas que estiveram no Posto de Turismo, enquanto em todo o ano de 2010 foram 86.108. Assim, a quatro meses do final do ano, já passaram pelo Posto de Turismo de Braga mais turistas do que durante todo o ano de 2010. No entanto, o fluxo turístico registado é ainda muito superior, uma vez que a cidade de Braga acolhe muitas excursões e visitas organizadas, sendo que estes visitantes não recorrem ao Posto de Turismo, uma vez que já se encontram com um guia que lhes fornece toda a informação. Numa análise aos valores do total de visitantes, constata-se que Espanha (25%), Portugal (22%) e França (13%) ocupam os primeiros lugares no ranking de nacionalidades que visitam Braga. O relatório da Divisão de Turismo realça também os pedidos de informação que chegam através de correio ou via electrónica, “que também têm sido cada vez mais, registando-se um exponencial aumento dos pedidos em língua russa, o que contribuiu para o lançamento do mapa nesta língua e a sua consequente divulgação entre os membros da comunidade russa, tanto em Portugal, como no estrangeiro”, sublinha.
Julgo que há semelhança do que geralmente se verifica aquando do desenvolvimento de outros segmentos turísticos, o chamado Turismo Religioso tem impacto a nível não só económico como também social, cultural e político. Este permite gerar riqueza aquando da promoção das mais diversas actividades económicas (transportes, comércio, restauração, hotelaria), promover a qualidade de vida da população residente através do aumento dos postos de trabalho e das infra-estruturas disponíveis, e ainda promover a preservação e divulgação do património e da cultura desta região.
[artigo de opinião produzido no Âmbito da unidade curricular “Economia Regional” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
Sem comentários:
Enviar um comentário