O Parque Nacional da Peneda-Gerês é o único Parque Nacional de Portugal e abrange uma vasta área montanhosa no extremo nordeste do Minho, tendo cerca de 71 000 hectares, que se estendem pelos distritos de Viana do Castelo, de Braga e de Vila Real, fazendo fronteira com a Galiza. Este inclui grande parte das serras da Peneda, do Soajo, Amarela e do Gerês e é cortado pelo Rio Lima e Cávado.
Em conjunto, as suas características levaram ao seu reconhecimento como Parque Nacional, pela União Internacional para a Conservação da Natureza e seus Recursos (UICN), segundo a qual um Parque Nacional é um “território relativamente extenso que apresenta um ou mais ecossistemas pouco ou nada transformados pela exploração e ocupação humanas, oferecendo um especial interesse do ponto de vista científico, educativo e recreativo; no qual a mais alta autoridade do País tomou medidas para proteger os valores nele contidos e que justificaram a sua criação; e onde as visitas são autorizadas, sob certas condições, com fins educativos, culturais e recreativos.”
Este Parque Nacional apresenta um riquíssimo património natural e humano. Por um lado, a existência de comunidades humanas confere-lhe uma grande originalidade, já que estas comunidades estão isoladas nos vales das montanhas ou nos planaltos, separadas umas das outras por caminhos de acesso difícil e tiveram que viver por si, pelo que desenvolveram actividades e criaram uma organização social que lhes permite ultrapassar as condições hostis que o ambiente lhes proporcionava. Esta organização é reflectida pela ordenamento do território em zonas de pastoreio, de cultivo e de floresta e pelo comunitarismo de serviços - malhas de centeio, fornos do povo, moinhos, vezeiras e espigueiros. Por outro lado, este caracteriza-se pela variedade de paisagens, pela diversidade dos microclimas, pelos vestígios históricos e pelas várias espécies vegetais e animais existentes.
Nesta região montanhosa, a orientação diversificada do relevo, as variações bruscas de altitude e a influência dos climas atlântico, mediterrânico e continental dão origem a uma infinidade de microclimas. As condições de clima existentes permitem que aqui se encontrem espécies que variam desde as das zonas mediterrânicas e subtropicais até às siberianas e alpinas. Assim, nas encostas dos vales mais quentes aparece o sobreiro, o medronheiro, o azereiro, o feto-do-gerês, entre outros. Nas zonas onde se sente mais influência do clima atlântico e em grandes altitudes surge o azevinheiro, o vidoeiro, espécies euro-siberianas e espécies alpinas. De entre todas estas espécies, merece referência especial, pela sua raridade, o lírio-do-gerês, que é única numa pequena área desta região.
Quanto ao seu valor faunístico, este é notável pela quantidade e diversidade de animais dignos de interesse que se podem encontrar, desde mamíferos (corço, javali, lobo, raposa, fuinha, texugo) e aves (águia-real, açor, milhafre-real, coruja-dos-matos) a répteis (víbora-negra, cobra-d'água, lagarto-d'água) e anfíbios (salamandra, tritão-alaranjado, rã-castanha, sapo-parteiro). Julgo que espécies animais como o cão Castro Laboreiro ou o boi Barrosão tornam esta região extremamente interessante e aliciante.
Em particular, há uma espécie que suscita o meu interesse. Apesar de o urso-pardo ter desaparecido em 1650 e a cabra-do-gerês em 1890, o isolamento em que permaneceram as altas zonas serranas e as condições favoráveis do meio permitiram que aqui se mantivessem espécies hoje raras e únicas no mundo, como é o caso dos garranos selvagens, que se encontram numa parte da serra do Gerês. Esta é uma raça de cavalo de pequena estatura e de cor castanha, nativa do Norte de Portugal, utilizada desde há muitos séculos como animal de carga e trabalho. Há muito que esta raça ali permanece, fazendo parte da riqueza pecuária dos povos da região. Nos finais do séc. XIX, o garrano viu a sua importância diminuída, quase chegando a desaparecer. No entanto, o que hoje observamos no Parque Peneda-Gerês não é mais do que a sua descendência, libertada no Vale do Homem, entre as serras Amarela e do Gerês, para satisfação de todos nós quando nos cruzamos com eles. O garrano bravio encontra-se profundamente ligado e adaptado ao meio que o rodeia, onde as áreas são de elevada e média altitude e muito acidentadas. No Verão, o carvalhal com a sua diversidade de árvores, arbustos e plantas servem-lhe de abrigo e alimento. No Inverno, prefere os descampados alimentando-se de tojo, urze e giesta. Podemos distinguir também os garranos particulares, que são animais com diferente pelagem, com maior porte e com mais carne, o que os torna sem dúvida mais rentáveis. Ao contrário dos bravios cuja captura é proibida, estes são capturados por volta dos dois anos, sendo fruto de cruzamentos com animais de raças estranhas, introduzidas propositadamente no monte.
Tiago Manuel Almeida Rodrigues
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Regional” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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