A indústria manufactureira em Portugal emergiu essencialmente como complemento à actividade agrícola, caracterizando-se por ser uma actividade de subsistência, que emprega sobretudo mão-de-obra feminina. Geograficamente, o Vale do Ave representa, em Portugal, a rotura entre essa típica actividade de subsistência para uma indústria desenvolvida e de grande importância regional.
Factor determinante para o desenvolvimento e localização desta indústria no Vale do Ave foi, sem dúvida, a abundância e as potencialidades dos cursos de água. De facto, verifica-se que a distribuição espacial das unidades industriais acompanha, muito de perto, o traçado de alguns rios, intensificando-se nos concelhos de Fafe, Santo Tirso, Vila Nova de Famalicão e Guimarães. A condição do recurso à água é assim crucial na explicação da proliferação da indústria em toda a bacia hidrográfica do rio Ave, com raízes históricas que remontam a um artesanato ligado ao linho e à implantação do têxtil do algodão a partir de meados do século XIX.
A importância das unidades fabris, em torno do Rio Ave, torna-se visível depois de se verificar a construção de raiz de inúmeras fábricas, com equipamentos modernos, que potenciam a região e fomentam o emprego. É evidente que o aproveitamento das forças hídricas é decisivo para o desenvolvimento da actividade nesta zona, criando assim condições ideais para satisfazer o acréscimo da procura interna e externa, nomeadamente do mercado ultramarino. Podemos assim verificar que as potencialidades desta região eram suficientemente grandes para justificar o afastamento do Porto, então principal pólo de dinâmica comercial, que mantinha as principais ligações com os mercados, interno e externo.
Após a hegemonia do sector, este quadro social e fabril conheceu profundas alterações no período pós 25 de Abril de 1974, em que a ordem estabelecida se esbateu e as indústrias começaram a sofrer na pele os efeitos de um novo ordenamento social e económico.
Sendo a ligação do Vale do Ave a esta indústria muito estreita, nomeadamente no que diz respeito à mão-de-obra historicamente ligada ao sector, esta região está fortemente condicionada pela sua conjuntura actual. Um dos principais factores que levou à decadência do sector têxtil foi a falta de afirmação no mercado internacional, potenciada pela paralisação da inovação neste ramo. O facto de as empresas seguirem uma linha de mão-de-obra barata, aliada a produtos de baixa qualidade, fez com que grande parte delas fechassem portas ao longo do tempo, vendo-se incapazes de competir com empresas internacionais, que favorecem unidades mais baratas de factor trabalho.
Desta forma a rede de empresas actual, o desemprego e o conjunto de infra-estruturas deixado pela decadência do sector têxtil, são assim os principais desafios que a região do Vale do Ave enfrenta neste momento. Neste sentido, o atenuar desta situação passa por reconverter as estruturas de produção, direccionando-as para o produto diferenciado, inovador, com qualidade e com o objectivo de afirmação nos mercados internacionais. Aliar uma capacidade de produzir bens tecnologicamente avançados a ideias de novos produtos através do conhecimento, é um dos pontos com maior importância na reestruturação desta actividade.
Existem bons exemplos de sucesso neste sector, como é o caso da PETRATEX, empresa que ficou colocada na 26ª posição do ranking das melhores invenções de 2008 da Times, com a produção do fato de banho utilizado pelo campeão olímpico Michael Phelps em Pequim.
Por outro lado, existe todo um património histórico, absolutamente vincado na região que é subaproveitado. No âmbito da reabilitação do património, não se verifica um esforço agregado por parte dos municípios e empresas neste sentido. Ainda que sejam de louvar iniciativas como a criação do museu de indústria têxtil em Famalicão, estas infelizmente não se revelam suficientes.
Concluindo, os exemplos de progresso e aproveitamento das características específicas da região existem, mas são de todo o modo pontuais. Os agentes intervenientes neste sector, assim como as instituições responsáveis pelo progresso deste território, devem assim trabalhar de forma conjunta com o objectivo de valorizar as características específicas desta região recuperando a hegemonia perdida no tempo.
[Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Regional” do 3º ano do curso de Economia da EEG/UMinho]
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