A desertificação populacional (também denominada por êxodo rural), designa o fenómeno de abandono dos habitantes das áreas rurais para centros urbanos. Este é um dos grandes problemas do nosso país, especialmente nas cidades e aldeias do interior, apesar de estar presente um pouco por todas as localidades de pequena e média dimensão.
O cálculo da densidade populacional de uma determinada região traduz-se pela razão entre a população total e a superfície territorial. Este indicador não tem em conta, obviamente, a forma como se distribui a população dentro da região considerada. Seria então de esperar que menores áreas indicassem uma maior densidade da população, o que definitivamente não acontece, tendo em conta que 80% da população de Portugal se concentra em apenas 20% do seu total espaço territorial, sendo o litoral a zona de principal concentração. Estes são dados assustadores que revelam que esta problemática se tem desenvolvido ao longo do tempo sem que grandes medidas tenham sido tomadas de forma a atenuar as suas causas e efeitos.
Este é um tema frequentemente abordado pela televisão, especialmente através de reportagens, que nos dão a conhecer um pouco desta realidade que não podemos analisar com os próprios olhos, caso façamos parte do grande grupo situado no litoral do país. Muitas vezes, essas mesmas reportagens tendem a intensificar a grandiosidade do problema e não tanto a necessidade de solução. Somos surpreendidos com regiões com 7 habitantes, onde a faixa etária varia entre os 70 e 90 anos (a título de exemplo).
Esta é uma das causas deste fenómeno, o aumento da esperança média de vida, em coligação com a diminuição da taxa de natalidade e o êxodo da população jovem das áreas rurais. Ou seja, nascem poucas crianças e as mesmas abandonam a terra-natal quando atingem a idade adulta (o que faz com que os filhos desses jovens nasçam em áreas urbanas); os pais e avós permanecem, que vão envelhecendo (impedindo também novos nascimentos) e, por consequência deste ciclo, a população da região fica resumida a idosos. Por este mesmo motivo, a taxa de mortalidade aumenta e pode parecer exagerado, mas a morte da região também se aproxima à medida que a sua população vai desaparecendo.
As profissões dominantes nessas regiões são o trabalho agrícola e a pecuária, tendo em conta que, a falta de outras oportunidades de emprego obrigam a uma profissão que muitas vezes se destina apenas ao sustento próprio. Por esta mesma razão, as poucas crianças que nascem são, por vezes, impedidas de frequentar a escola por terem de ajudar os pais no trabalho do campo. E, efectivamente, são estas que renovam a população, já que a entrave da analfabetização não permite aspirações de uma vida diferente.
Portugal tem vindo a desenvolver alguns programas com vista à diminuição das assimetrias rural/urbano no entanto, tem sido um processo lento e com vários obstáculos. As soluções para este problema podem parecer improváveis, mas várias medidas podem ser tomadas de maneira a dar início a um processo de reversão. O desenvolvimento económico dessas regiões, tomando início na criação de oportunidades de trabalho é fulcral para atrair a população, ou pelo menos, impedir a sua migração. A divulgação do artesanato, da gastronomia local, das festas e lendas são formas de reafirmação da identidade local; a recuperação do património histórico; o aproveitamento dos espaços naturais de modo a promover práticas organizadas como desportos e percursos turísticos; a dinamização cultural que permita o contacto entre as populações próximas das freguesias do conselho ou mesmo fora dele; intercâmbios culturais entre escolas e clubes recreativos e desportivos.
São imensas as iniciativas que podem ser adoptadas para fixar os jovens, mas estas atracções deverão ser criadas depois da resolução de outras problemáticas que são a causa da diminuição em grande escala da qualidade de vida das populações destas regiões. Falo especialmente da falta de rede de transporte e baixa assistência médica, que são factores essenciais para as populações idosas. Assim, posteriormente, a recuperação demográfica poderá tornar-se mais fácil: uma vez que, os jovens poderão ser a chave para esta dinamização, ao contribuírem para a mesma, poderão comprovar o aumento da qualidade de vida e assim, atrair outros, tornando possível a concretização dos projectos referidos anteriormente. Além disso, se tiverem incentivos monetários, como por exemplo, habitações de baixo custo destinadas aos jovens, poderão ceder mais facilmente ao êxodo urbano. A criação de estabelecimentos de ensino e saídas profissionais permitirão dar continuidade a este desejado ciclo reversivo, onde o fenómeno da “votação com os pés” será redireccionado para as regiões do interior e Alentejo.
Actualmente, os distritos do Porto, Bragança, Coimbra, Castelo Branco, Santarém, Lisboa e Portalegre apresentam um índice de população jovem (0-25 anos) inferior à média nacional (24,2%), fazendo destes sete, os distritos mais envelhecidos de Portugal. Por outro lado, os distritos com maior população jovem são Braga, Viseu, Leiria e Aveiro. Pinhel, Mogadouro, Torre de Moncorvo, Proença-a-Nova, Mora, Ourique, Almeida, Vimioso, Mértola, Crato, Miranda do Douro, Marvão, Monchique, Mação, Melgaço, Sabugal, Mação, Nisa, Vinhais, Pampilhosa da Serra, Idanha-a-Nova, Gavião, Penamacor, Oleiros, Alcoutim e Vila Velha de Rodão são os municípios onde a população jovem já não atinge um quinto da população total.
Esta fuga dos espaços rurais para os espaços urbanos afecta ambos os lados, não só no caso da desertificação das aldeias mas também no congestionamento das cidades, que acaba por diminuir a qualidade de vida, pela falta de estruturas suficientes.
Em suma, a criação de incentivos e a reestruturação regional são os passos a tomar para a resolução deste problema, ou, por outras palavras, é necessário emigrar cá dentro.
Joana Dias
[Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Regional” do 3.º ano do curso de Economia (1.º ciclo) da EEG/UMinho]