segunda-feira, março 18, 2019

A candidatura das Festas Nicolinas a Património Imaterial da UNESCO

Sendo um assunto já debatido há vários anos, a candidatura das festas Nicolinas a Património da Humanidade parece estar agora (que começa a tornar-se uma possibilidade real) a suscitar um conjunto de questões que até então não terão sido consideradas. As festas Nicolinas, festas dos estudantes de Guimarães, correspondem a uma tradição em honra de S. Nicolau (padroeiro dos estudantes) com mais de 300 anos de existência.
Sabendo que um dos principais entraves a esta candidatura seria a falta de funcionamento do Inventário Nacional do Património Cultural e Imaterial, surge agora a público um fator (que não sendo estranho a nenhum Vimaranense) poderá ser um ponto bastante negativo associado a esta tradição. Falo do consumo de álcool associado a esta manifestação cultural por parte de jovens, o que poderá causar constrangimentos aquando da referida candidatura. Não sendo o álcool associado a algum tipo de obrigatoriedade no seu consumo, quem participa e assiste aos diferentes números das festas verifica que o mesmo está bastante presente. Porém, não é neste ponto que me quero focar.
Recentemente, verifica-se entre os Vimaranenses alguma controvérsia em relação a esta candidatura. Sendo geral a vontade de valorizar ainda mais uma tradição que é tão acarinhada pelos cidadãos, surgem ainda assim duas linhas de argumentação antagónicas: há quem veja a elevação desta tradição a nível internacional como algo bastante positivo e impulsionador da herança cultural da cidade; simultaneamente, surge um sentimento de discordância, defendido por aqueles que acreditam que a “publicidade” que surgirá de uma manifestação “Património imaterial da Humanidade” irá gerar uma turistificação da mesma.
Uma tradição associada à história da cidade, alorizada, preservada e honrada por cada Vimaranense, com um caráter emocional inexplicável aos demais visitantes, e com números que em nada deverão ser alterados, muito dificilmente poderá ser compreendida por “externos”.
Não menosprezando os turistas e visitantes da cidade, será, de facto, assim tão vantajoso aumentar consideravelmente o fluxo de população (visitante) que circula no município na altura das festas (em especial na noite do Pinheiro, 29 de novembro, que é a data com mais afluência)? Pessoalmente, não me parece que o aumento de visitantes no período das Nicolinas seja por si só um inconveniente. Mas, a verificar-se, deverá ter-se um extremo cuidado para que esta entrada das Nicolinas no “circuito turístico” não permita uma descaraterização da tipologia desta tradição. Essa consequência, de todo indesejável, perverteria o objetivo inicial da candidatura a Património Imaterial da Humanidade.

Rita Pereira 

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional”, do curso de Mestrado em Património Cultural do ICS, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2018/2019)

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