domingo, março 10, 2019

Carnaval de Torres Vedras

Neste artigo de opinião irei abordar o Carnaval de Torres Vedras, mais conhecido como o "Carnaval mais Português de Portugal". Tendo um orçamento de 680 mil euros para o evento de 2018, é considerado uma festa sem igual no contexto nacional. Os números do ano transato revelam essa realidade dado que no Corso Escolar, por exemplo, participaram 8000 pessoas, entre as quais se encontravam crianças, professores e auxiliares, em representação de 72 estabelecimentos de ensino. Também o Baile Tradição reuniu 850 seniores de 40 entidades dos concelhos de Torres Vedras, Lourinhã, Mafra, entre outros. A eleição da Miss Matrafona contou com 44 concorrentes, num desfile que juntou milhares de pessoas. O Concurso de Grupos de Mascarados, com cerca de 2200 pessoas de 41 grupos concorrentes, encheu de cor e de criatividade o primeiro Corso Noturno.
Neste Carnaval, cerca de 400 mil pessoas visitaram Torres Vedras, o que acaba por explicar o sucesso que este evento revela ter na cidade, onde é uma referência na agenda turístico-cultural do país.
Relativamente às tradições, o carnaval de Torres Vedras é reconhecido por diversas atividades típicas, como é o caso dos "Reis do Carnaval", que diferem pela sua composição (sempre dois homens, por razões que a tradição social explica) e pela pose sarcasticamente grandiloquente, pelos adereços desconcertantes ou pela sua afirmação como referência a foliões. Não se confundindo com um travesti, as "matrafonas" satirizam alguns dos toques femininos mais vulgarizados, ora dão uma visão da mulher, nem sempre inocente e nunca isenta, na ótica masculina. A imagem da mulher socialmente "malcomportada" é um papel recorrentemente usado pelas "matrafonas".
Os carros alegóricos são uma das imagens de marca do Carnaval de Torres muito devido à sua construção plástica e pela sátira a temas da atualidade nacional e internacional e pelas suas grandes dimensões. Estas temáticas incluem inúmeras figuras públicas da sociedade, da política e do desporto.
Os carros eram inicialmente de tração animal, mas passaram depois a ser puxados por tratores. Nos últimos anos, tem-se assistido à crescente introdução de carros auto-motorizados.
Os cabeçudos (elemento indispensável no Carnaval de Torres) são das primeiras “obras de arte” presentes nesta festa. Originariamente feitos de pasta de papel, nunca deixaram de engrossar, adquirindo novos e mais diversificados estilos, com expressão, também, no seu acompanhamento musical - sempre grupos de Zés Pereiras.
Entrudo é o nome dado a um boneco tradicionalmente feito de palha, que é queimado anualmente na quarta-feira de cinzas, após o julgamento e leitura do testamento. A queima ou enterro do Entrudo surge no encerramento do Carnaval, encontrando-se presente no Entrudo dito rural ou tradicional, prática que sobreviveu no Carnaval urbano de Torres Vedras.
A interação entre o público e os mascarados é em grande parte feita através do arremesso de "cocotes" (pequenos objetos feitos de papel e restos de serradura e borracha) entre ambos. A música é também toda ela local, tentando manter as raízes portuguesas. 
A preservação do meio ambiente e a sustentabilidade é um dos maiores aspetos que têm vindo a ser considerados ao longo do tempo. Em 2013 e através do tema “Reciclagem”, o evento vem a apelar ao sentido de responsabilidade ambiental dos foliões e assume uma clara aposta na reciclagem dos resíduos produzidos. De forma a complementar o trabalho que já era desenvolvido neste âmbito, o Carnaval de Torres Vedras assume-se como um Eco Evento desde 2017, sendo o terceiro ano consecutivo em que se compromete a reduzir o seu impacto ambiental. A iniciativa proporciona formação e apoio no âmbito da gestão adequada de resíduos, disponibilizando uma contrapartida financeira que é calculada em função do desempenho ambiental do evento. Foi desta forma que foram recolhidas e enviadas para a reciclagem cerca de 20 toneladas de resíduos durante as duas últimas edições do evento. Este ano, a compensação que resulte da quantidade de resíduos recolhidos seletivamente será entregue à Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários de Torres Vedras.

Pedro Moreira

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia do Turismo”, de opção, lecionada a alunos de vários cursos de mestrado da EEG, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2018/2019)

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