terça-feira, março 12, 2019

Aldeias Remotas: a Branda da Aveleira

A aldeia da Branda da Aveleira localiza-se à entrada do Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG), nas encostas da serra da Peneda, na freguesia de Gave, concelho de Melgaço, a cerca de 1100m de altitude, onde são ainda visíveis os vestígios da era glaciar (Glaciação de Wurm). É uma das 7 Maravilhas Naturais de Portugal® eleitas em 2010.  Esta aldeia parece ter parado no tempo. Não fossem algumas construções mais modernas, pensaríamos que tudo se mantém como antigamente. Uns dias de descanso nesta aldeia proporcionam um regresso às tradições agrícolas e culturais mais antigas e momentos de total relaxamento no Vale do Minho.

O nome branda deve-se à tradição secular da transumância do gado na vida da aldeia. É desde o século XII que os brandeiros da Gave sobem com os rebanhos para os pastos desta branda, libertando os terrenos mais baixos para o cultivo agrícola. No passado, a branda da Aveleira acolhia a assembleia dos brandeiros anciãos, pois com os pastores e seus rebanhos seguia também toda a cultura inerente a cada povo. Estes permaneciam na branda durante todo o verão, só descendo até à povoação, a cerca de 5km, para levarem mantimentos. Os pastores viviam assim em total isolamento durante todo o verão. Este isolamento ainda é bastante notório nos dias de hoje.
A aldeia é bastante isolada e praticamente sem infraestruturas de suporte, para além das casas rústicas e de um restaurante próximo, com horários limitados. O sinal de telemóvel ou internet é quase inexistente.Quem visita a branda da Aveleira terá paz e sossego. O visitante tem de estar preparado para se desligar de tudo e desfrutar de um recanto natural com uma beleza imperdível.
A aldeia da Branda da Aveleira é composta por 80 casas rústicas – cardenhas - que serviam de abrigo aos pastores e seus animais. A aldeia é o testemunho de uma tradição agrícola e cultural de grande valor antropológico.
Por volta dos anos 60 e 70, a emigração deixou a aldeia semiabandonada. Mas, anos depois, os habitantes aproveitaram os fundos comunitários para requalificar as habitações de que eram proprietários, destinando-as a oferta de Turismo de Aldeia. Atualmente, podemos encontrar um conjunto de casas rústicas, típicas, algumas delas, cerca de uma dezena, encontram-se restauradas, mantendo a traça original, mas adaptadas, transformando a Branda da Aveleira numa aldeia turística.
Antes de iniciar o passeio pela aldeia e pela envolvente, o visitante deverá recolher a informação sobre os principais locais de interesse. Na aldeia, merece um olhar atento a Capelinha da Senhora da Guia e o conjunto de casas rústicas típicas, designadas por cardenhas, como referi. O pequeno lago que se encontra à entrada da aldeia é um convite a banhos na época de verão.
Nesta zona, também, não faltam sugestões de percursos pedestres. O visitante poderá desfrutar da natureza, passear entre outeiros e leiras, afloramentos rochosos de granito e xisto e regatos de água fresca. Percorrer o trilho megalítico que o levará ao Dólmen do Batateiro, o trilho da Aveleira, percurso de montanha, ou o trilho da Peneda, entre o povoamento da Peneda e a Branda da Bouça dos Homens. O visitante terá oportunidade, também, de observar os vestígios glaciários na Serra da Peneda e aventurar-se à descoberta do lago da Peneda, no cume da serra com o mesmo nome. Depois destas sugestões o visitante poderá retemperar energias com a saborosa gastronomia local, da qual se destacam a broa de milho, o fumeiro e o cabrito à moda da Serra.
Apesar de se tratar de uma aldeia remota, a aldeia da branda da Aveleira teve a capacidade de se renovar e qualificar e de promover o que tem de melhor: a hospitalidade das suas gentes, a gastronomia, os produtos endógenos, as suas belezas naturais e património edificado, contribuindo para aumentar o afluxo turístico.
Maria José Dias

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia do Turismo”, de opção, lecionada a alunos de vários cursos de mestrado da EEG, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2018/2019)

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