segunda-feira, março 18, 2019

FESTA DA TAÇA: quem joga em casa? Ninguém!

O futebol! É inegável o papel do futebol na sociedade portuguesa. Podemos não gostar ou nem ligar muito a ele mas o que é certo é que ele está presente e faz parte de nós. Portugal possui os melhores jogadores, os melhores treinadores, o melhor manager e o presidente mais titulado do mundo. De facto, arrisco-me a dizer que o futebol, como um todo, é uma das componentes identitárias de maior relevância da sociedade portuguesa. Posto isto, é com muita pena que reflito sobre o tema que venho expor hoje aqui.
O futebol moderno é cada vez mais voltado para os grandes negócios e interesses económicos. Isso não tem mal nenhum, aliás, se se puder utilizar o futebol como forma de criar riqueza, emprego e desenvolvimento, pois bem, que assim seja. O que infelizmente ocorre, fruto desse futebol moderno, é uma série de acontecimentos que, quanto a mim, são a antítese do que deveria ser o futebol.
Todos sabemos que a Taça de Portugal é uma das competições nacionais de futebol e tem um regulamento associado. O regulamento da Taça de Portugal determina que os clubes da I Liga têm que jogar, “obrigatoriamente”, a terceira eliminatória da taça na qualidade de visitantes, ou seja, no campo do clube de um escalão inferior. Esta norma possui um objetivo e um princípio claros: “Levar a festa da Taça e as principais equipas do futebol português a zonas do país onde, normalmente, apenas são vistas pela televisão e equilibrar os pratos de uma balança que pende sempre para o lado dos mais fortes.”[1]
Porém, não fossem as condicionantes atreladas a este princípio tão nobre, tudo seria perfeito. Refiro-me às caraterísticas técnicas do recinto de jogo, ou seja, fraca iluminação, pouca segurança (inexistência de torniquetes), a inexistência de cadeiras na bancada e balneários, que comprometem o conforto, o relvado, que não pode ser pelado e sem as dimensões mínimas exigidas, já para não falar das condições necessárias à segurança dos jogadores, pelo menos dos da equipa da I Liga, que valem milhões…
        Caso estes condicionalismos se verifiquem, a realização do jogo fica inviável, e é determinado um novo recinto de jogo. Assim, nenhuma das equipas envolvidas na partida jogará em casa.
        Ora, e aqui é que reside a razão para este artigo de opinião. A inviabilização do jogo no terreno de jogo do clube mais modesto “belisca o espírito da competição mais democrática do calendário nacional”. Para além disso, quanto a mim, a não realização do jogo tem outro tipo de implicações, nomeadamente económicas e de desenvolvimento, a saber:
i)              o facto de os clubes “grandes” jogarem na casa do clube mais modesto possibilita a dinamização económica, social e cultural da localidade do clube “pequeno”, isto porque o clube “grande” mobiliza um grande número de adeptos que durante um dia vão a um território (uma cidade ou vila) para ver um jogo de futebol, e em muitos casos conhecer esse território;
ii)            a localidade (concelho/cidade/vila) perde a oportunidade de se dar a conhecer a um numeroso grupo de pessoas que poderiam regressar um dia no futuro, não como adeptos de futebol mas como turistas.  Ou seja, durante tempo de intervalo do jogo e antes e depois do jogo, a localidade poderia dar-se a conhecer, através da realização uma pequena mostra turística e também através da exposição de cartazes publicitários no estádio com eventos e produtos regionais de interesse;
iii)         a localidade do clube “pequeno” perde a oportunidade de se desenvolver, nomeadamente ao nível dos equipamentos desportivos (veja-se o exemplo de Vila Real, que ficou com um recinto desportivo com melhores condições graças à ajuda de um clube “grande”, que fez de tudo para que o jogo se realizasse em Vila Real)[2], aliás, este exemplo, na minha opinião, deveria ser replicado em jogos semelhantes.  
        Em suma, o futebol, sendo um desporto apaixonante, que mobiliza milhares e milhões, poderia ser um meio para o dinamização e de desenvolvimento das localidades.

Jorge Garrido

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “economia e Política Regional”, do curso de Mestrado em Geografia do ICS, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2018/2019)

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