terça-feira, abril 23, 2019

A “marca UNESCO” – importante ou não?

Neste artigo vou falar sobre uma Organização que tem como interesses a Educação, as Ciências e a Cultura. A UNESCO, com esses interesses, estabelece programas que contribuem para a realização de os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, definidos na Agenda 2030.
Tendo programas variados, neste artigo vou dar enfâse aos Geoparques, pois a UNESCO está ligada à Rede Global de Geoparques. Contudo, estes Geoparques podem ser muito importantes para o desenvolvimento local, se tiverem as devidas estratégias. Falarei sobre o Geoparque Naturtejo, para entendermos um pouco como podemos, através dos Geoparques, desenvolver uma zona que tinha muito pouco que “fazer” e que depois do desenvolvimento do Geoparque revitalizou-se como um local importante.
A geoconservação pode ocorrer através da criação de geoparques. Este conceito surgiu num Programa da UNESCO, mas nunca foi aprovado devido a motivos financeiros. Contudo, a UNESCO conferiu um patrocínio (não financeiro) a áreas que respondessem aos critérios delineados, aparecendo assim a Rede Europeia de Geoparques (REG), em 2000, e, em 2004, a Rede Global de Geoparques. Nos geoparques conjuga-se a geoconservação com o desenvolvimento económico sustentável. Procura-se que a geoconservação constitua um elemento de promoção dos territórios e não de condicionalismo. Em Portugal, existem 4 Geoparques, Geoparque Naturtejo, Geoparque Arouca, Geoparque Açores e o Geoparque Terras de Cavaleiros, todos pertencentes à REG.
Em 2004, a Associação de Municípios Natureza e Tejo, composta pelos concelhos de Castelo Branco, Idanha-a-Nova, Nisa, Oleiros, Proença-a-Nova e Vila Velha de Ródão, criou a Naturtejo. Esta empresa de capitais públicos foi pensada para promover turisticamente, quer em Portugal, quer além-fronteiras, uma região que corresponde em área a uma pequena parte do território nacional. Um território dominado pelo setor agrícola, em generalizada declinação, onde os serviços se centralizam nas sedes concelhias e na única cidade de média dimensão, Castelo Branco, onde as aldeias estão em perda acelerada de população nestes que são alguns dos mais envelhecidos concelhos de Portugal. Um passado remoto de fronteira legou séculos de abandono das terras, contribuindo para uma paisagem dominada pela ausência de povoados. Mas este deserto de gentes teve como efeito positivo a conservação da Natureza num estado ainda primitivo, reminiscente do ordenamento territorial Romano.
Podemos verificar, segundo alguns dados, que ao longo dos anos os visitantes têm olhado para a o Naturtejo como algo importante para se visitar, por exemplo, em 2007, em apenas 4 meses, 35000 visitantes estiveram no Geoparque no contexto de uma exposição interativa sobre o Geoparque Naturtejo. Outra data importante é a da Semana Europeia de Geoparque, que decorre todos os anos, e, em 2009, 68000 visitantes participaram num vasto conjunto de eventos durante essa semana. Ainda mais recente, em 2016, cerca de 250000 pessoas visitaram o Geoparque durante todo o ano. O Geoparque Naturtejo tem um vasto conjunto de atividades, desde percursos na natureza, rotas pelo Geoparque (ex: rota das trilobites), geoprodutos, percursos de BTT, programas educativos, etc.
Perante isto, na minha opinião, não restam dúvidas que o desenvolvimento do Geopark Naturtejo, integrado nas redes europeia e global de geoparques assistidas pela UNESCO, veio agitar culturalmente um território nem sempre devidamente lembrado pelo seu posicionamento fronteiriço e com uma dinâmica arrítmica assente no trabalho de apenas alguns.
É com este tipo de “iniciativas” que talvez possamos combater as povoações despovoadas, com estratégias que “chamem” visitantes para verem o que de melhor há nesses locais por vezes desconhecidos por muita gente, fazendo com que a economia local cresça e, consequentemente, haja desenvolvimento local. A marca da UNESCO, no meu ponto de vista, foi importante porque trouxe o prestígio e a centralidade face a destinos turísticos envolventes na península Ibérica e arredores, abrindo caminho para uma oportunidade de ouro de desenvolvimento turístico que se quer sustentado em práticas conciliadoras do homem com o ambiente.

Tiago Dinis Cruz Santos Fernandes

Bibliografia
Geoparque Naturtejo: https://naturtejo.com/

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “economia e Política Regional”, do curso de Mestrado em Geografia do ICS, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2018/2019)

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