sábado, abril 20, 2019

O Turismo “Doom” e o seu Impacte no Ambiente

O turismo “doom” é viajar para locais que estão a ser ameaçados ao nível ambiental, antes que desapareçam. É um mercado de nicho na área do turismo onde os turistas procuram explicitamente paisagens e/ou património social que estão a desaparecer. Este tipo de turismo também é conhecido como turismo de última chance, voyeurismo de mudança climática ou turismo de extinção. As razões pelas quais este tipo de turismo existe são as mudanças climáticas e o aquecimento global, o desenvolvimento que pode vir a erradicar edifícios ou locais históricos, o desejo de observar espécies em via de extinção no seu habitat natural, antes que este desapareça ou que a própria espécie se extinga.
Embora o turismo de última chance se esteja a tornar numa tendência mais comum na indústria do turismo hoje em dia, este remonta ao começo dos Estados Unidos da América. A abertura de vias de férreas para o oeste abriu o mercado de turismo para o oeste selvagem. Isto fez com que um avultado número de pessoas partisse de leste para oeste para ver as amplas e abertas paisagens antes que os mineiros as "estragassem". Dito isto, atualmente existem diversos locais que estão em risco de desaparecer, tais como as ilhas Maldivas, onde especialistas especulam que dentro de poucas décadas a ilha possa desaparecer devido ao aquecimento global. O aumento das temperaturas a nível mundial está a resultar num consequente aumento do nível dos oceanos, o que faz com que diversas ilhas possam vir a ficar submersas.
A Grande Barreira de Coral é outro caso. Trata-se de um monumento vivo que suporta um número vasto de organismos marinhos, fornecendo-lhes alimento e proteção. Em 2012, cientistas estimaram que o coral perdeu mais de metade do seu tamanho desde 1985. Isto não se deveu ao aumento do nível das águas dos oceanos mas sim ao facto de água oceânica estar a ficar mais ácida (este fenómeno é conhecido como a acidificação do oceano). Outras situações são o Alasca e o Círculo Polar Ártico, que estão a aquecer duas vezes mais rápido do que o resto do planeta e, como resultado, a área do Ártico coberta de neve no início do verão encolheu quase 20%, desde 1966. Os modelos climáticos prevêem que o Oceano Ártico poderá ficar sem gelo até o final do século XXI. Estes locais atraem milhares de passageiros de cruzeiros, que pagam mais de 12.000€ para ver ursos polares e baleias jubarte nos seus habitats naturais.
Por último, refira-se a neve do Monte Kilimanjaro - a montanha mais alta da África –, que pode desaparecer em breve depois de um estudo que demostrou que a sua calota de gelo está destinada a desaparecer inteiramente dentro de vinte anos, em grande parte devido às alterações climáticas. Os vastos campos de gelo do Kilimanjaro, na Tanzânia, estão a derreter a um ritmo mais rápido do que em qualquer outro momento nos últimos cem anos e, a este ritmo, irão desaparecer completamente dentro de duas décadas ou até mais cedo, segundo alguns cientistas.
Existem alguns impactes positivos resultantes deste tipo de turismo para os locais mencionados anteriormente. Tais impactes podem ser: a ajuda na promoção da consciencialização das alterações climáticas; os ganhos económicos, através de pagamento das visitas ou venda de produtos relacionados com os locais, que podem ser reinvestidos em educação ou programas de conservação, e a criação de oportunidades de desenvolvimento económico para operadores ou comunidades de turismo.
Além de haver benefícios bastante importantes para o desenvolvimento sustentável e preservação destas áreas, existem alguns impactes negativos adjacentes ao turismo “doom”, que resultam do aumento das atividades turísticas nestas áreas, o que pode fazer com que o desaparecimento destes destinos seja mais rápido, isto devido ao facto das viagens a estes locais serem longas e demoradas, o que faz com que sejam utilizados grandes níveis de combustível, o que causa um aumento das emissões de CO2 (que é um dos grandes fatores negativos das alterações climáticas).
Em suma, para que este tipo de turismo seja sustentável para o ambiente, recomendo que haja um limite anual de pessoas a visitarem estes locais, ou seja, podem ser implementadas medidas que criem listas de espera de forma a diminuir os fluxos turísticos e de forma a tornarem estes locais mais exclusivos. Também recomendo que os preços cobrados para estes destinos únicos sejam aumentados, e se divulgue mais informação de forma a ajudar a prevenir a destruição destes locais através de ações de sensibilização.  

Tiago Cardoso Moreira Rodrigues

Bibliografia:
ELONA THE EXPLORER. What Is Doom Tourism and Why Should You Care? Disponível em: http://www.elonatheexplorer.com/what-is-doom-tourism-and-why-should-you-care/
DJAUNTER. Doom Tourism. Disponível em: https://djaunter.com/glossary/doom-tourism/
WIKIPEDIA. Maldivas. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Maldivas
WIKIPEDIA. Grande Barreira de Coral. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Grande_Barreira_de_Coral
WIKIPEDIA. Círculo Polar Ártico. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/C%C3%ADrculo_Polar_%C3%81rtico
WIKIPEDIA. Kilimanjaro. Disponível em:  https://pt.wikipedia.org/wiki/Kilimanjaro

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia do Turismo”, de opção, lecionada a alunos de vários cursos de mestrado da EEG, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2018/2019)

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