quarta-feira, abril 24, 2019

Reabilitar o Estádio 1º Maio

No início do século XX, à semelhança do que acontecia além-fronteiras e nas principais cidades do país, diversas práticas desportivas foram surgindo, com o futebol a ganhar um claro destaque. Ora, Braga não podia ficar indiferente e aderiu com euforia a este novo surto desportivo, que mereceu desde logo maior atenção por parte das gentes locais.
Como se jogava em qualquer lado, este entusiasmo que tomou conta da população levou ao aparecimento de campos improvisados. Contudo, eram estruturas que não satisfaziam a necessidade de um público cada vez mais exigente, contribuindo também para tal o recém-formado “Sporting Clube de Braga”, em 1921, clube da cidade e da região, com ambições muito claras no meio futebolístico português.
Com o objetivo de construir um “estádio regional” e de comemorar o 21º aniversário da Revolução de 28 de maio de 1926, o ambicionado estádio, projetado pelo arquiteto e engenheiro Travassos Valdez, foi finalmente inaugurado em 1950, com a designação de “Estádio 28 de maio”, em celebração do regime que o financiara. Passados 24 anos e uma vez implantado o regime democrático, a estrutura mudou o seu nome para “Estádio 1º de maio”, alusivo ao Dia Internacional do Trabalhador, uma das conquistas da liberdade obtida na revolução de 1974.
Constituindo um dos escassos equipamentos desportivos edificados em Portugal durante o Estado Novo, construído em pedra e betão armado, com relvado para a prática do futebol e pista para o atletismo, este foi considerado, na época, um dos mais importantes estádios do país e um dos mais belos de inspiração clássica.
Contudo, apesar da sua história e de ter sido palco de muitas emoções, longe vão os tempos de glória do 1º de maio. Esta estrutura, classificada como Monumento de Interesse Público, está degradada devido ao desleixo da autarquia na respetiva manutenção e conservação, assistindo com tristeza ao seu aspeto pouco cuidado. Para tal contribuiu também a construção do Estádio Municipal, para onde foram canalizados grandes investimentos, colocando à margem, de certa forma, um dos locais mais emblemáticos da cidade. A verdade é que a fatura do novo estádio já é três vezes maior do que o valor inicialmente previsto para a sua construção, e são imensas as pessoas que recordam com saudade o “velhinho 1º de maio”, localizado no Parque da Ponte.
É inquestionável a beleza arquitetónica do novo espaço que alberga atualmente o principal clube de futebol da cidade, mas as queixas relativas a este vão desde o frio sentido no seu interior até ao facto de os adeptos terem de subir e descer uma grande quantidade de escadas para aceder ao seu lugar. Pergunto-me ainda se, de certa forma, seria necessário um investimento tão grande naquele espaço, quando se tinha um estádio tão poderoso e esteticamente fascinante como o 1º de maio, onde os bracarenses e braguistas se juntavam em festa para assistir ao jogo do seu clube de coração. Lugar de muitas paixões e conquistas, hoje não passa de um local nostálgico, perto de tudo, mas tão longe de todos, apesar de albergar campeonatos de atletismo e algumas equipas de futebol do Sporting Clube de Braga.
Considero uma mais-valia para a cidade a recuperação e revitalização do 1º de maio pelo Município de Braga e pela Universidade do Minho por forma a trazer de volta a mística que sempre o caraterizou, considerado como um ponto de memória coletiva para as gentes da cidade, não merecendo o estado degradado em que se encontra.

Maria da Graça da Cunha Peixoto


(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional”, do curso de Mestrado em Património Cultural do ICS, a funcionar no 2ºsemestre do ano letivo de 2018/2019)

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