domingo, abril 28, 2019

O Caminho de Santiago de Compostela

           O turismo religioso é uma manifestação da nossa história e da nossa cultura, sendo a manifestação mais antiga de turismo do mundo. Tem sofrido várias alterações ao longo dos anos, sendo promovido e melhorado, proporcionando crescimento e sendo um ativo de posicionamento para os países. Seja por motivações espirituais ou culturais, o setor do turismo religioso proporciona uma descoberta de todo o território, fortalecendo o seu desenvolvimento. É comum vermos no nosso dia-a-dia peregrinos passar pelas nossas localidades, com grandes mochilas, sozinhos ou em grupos, movidos com uma única motivação, a fé, focando-se em alcançar o seu destino espiritual.
         O Caminho de Santiago de Compostela é uma rota milenar seguida por milhões de peregrinos desde o início do século IX, sendo Santiago de Compostela um grande centro de peregrinação cristã. Aqui, está associado muito mais do que à conotação religiosa, pois através destes foram divulgadas ideologias, tendências, contactos entre culturas e até mesmo movimentos artísticos que fortificaram os alicerces da Europa.
        Foi percorrido por desde os mais humildes peregrinos aos mais conceituados nomes, como vários membros do Clero e da Monarquia. Desde então, pessoas das mais diversas procedências percorrem os Caminhos que conduzem à Catedral espanhola onde se veneram as relíquias do Santo Apóstolo, dando origem a um fenómeno que se mantém e reforça a cada dia. Conta com mais de 300 000 peregrinos anualmente, que manifestam a sua fé pelo Santo Mártir percorrendo o seu Caminho das mais diversas formas.
      Santiago de Compostela foi declarada, em 1985, Património Cultural da Humanidade pela UNESCO, sendo também reconhecida como Capital Europeia da Cultura, em reconhecimento ao seu dinamismo cultural e seu labor de difusão cultural ao longo da história.
         Os Caminhos de Santiago são, por isso, um denominador da cultura europeia, pelo que os seus itinerários, que são espaços públicos de convergência e harmonia, devem ser respeitados e promovidos. Neles, qualquer caminhante se sente um cidadão do mundo, o que lhe dá a oportunidade de perspetivar as suas convicções num sentido universal de abertura e tolerância.
É notório o contributo e empenho dos municípios na dinamização destes percursos, quer através da sinalização quer ao nível dos apoios prestados. Esta apreciação é, mais uma vez, demonstrada na candidatura conjunta de 10 municípios (constituintes do Caminho Português da Costa), ao Norte 2020, com o objetivo de valorizar e reconhecer oficialmente este Caminho como itinerário da peregrinação a Santiago. Esta rede intermunicipal apresenta uma comunicação integrada que potencia o valor intrínseco do Caminho português da Costa.
O culto de Santiago de Compostela está presente na essência destes 10 municípios, envolvendo diferentes paisagens num único percurso que atrai à serenidade. Este é o trilho para quem procura novas sensações, que ultrapassam o corpo e aclaram a mente, através de uma viagem em que o espiritual se completa com o interesse cultural e paisagens de tirar o fôlego.
Pessoas partem dos mais remotos lugares, percorrendo caminhos sem fim, tendo como guia a sua fé e como alicerce a crença de alcançar o propósito. É uma verdadeira demonstração de fé, e uma vivência completamente única e inigualável, um momento de introspeção. Ao longo do caminho, assistimos, através das paisagens, à personificação de muitos momentos da vida que levam o pensamento a encontrar um sentido. Pelos centros históricos, escutam-se histórias sobre os que passaram, partilhadas pelas gentes que recebem. A admiração e sedução por cada momento ficam gravadas, apelando a um regresso, rápido, a este Caminho.
Os albergues, para além de um local de repouso, também são um “centro” de união, onde pessoas dos mais variados pontos se encontram e convivem, compartilhando histórias, vivências e as suas crenças.
Terminada a jornada, a felicidade, o alívio e o sentimento de dever cumprido transbordam nestes nobres Caminhantes. A cada passo dado os peregrinos vêem a sua fé fortalecida, a sua história enraizada e a sua cultura difundida. Não é por acaso que vários autores afirmam que a Europa se construiu a peregrinar a Compostela. 
         Como diz o velho ditado popular: “Quem não vai a Santiago em vida, vai depois de morto”. É notória a evolução das épocas e, ao mesmo tempo, a intemporalidade da fé. Da fé que move as pessoas, da fé que une povos, da mesma fé dos nossos antepassados que se tornou na nossa, que nos guia e que nos faz querer ser melhores para com os outros e para connosco próprios.
Percorrer o Caminho de Santiago é fazer um caminho de renovação, de transformação interior, viajando ao ritmo de outros séculos, é..... Peregrinar.

Diana Silva

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia do Turismo”, de opção, lecionada a alunos de vários cursos de mestrado da EEG, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2018/2019)

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