sábado, abril 13, 2019

O ´Do Bira ao Samba` será considerado cultura?

O “Do Bira ao Samba” é um festival peculiar, pois a sua essência é dar a mostrar duas culturas que sempre andaram de mão dada: a portuguesa e a brasileira. Daí provem o seu nome, “Do Bira” mencionando a cultura portuguesa, e “ao Samba”, consequentemente mencionando a brasileira.
Este festival decorre desde 2015, na cidade de Braga, e é na sua essência um festival de artes performativas, contando com 4 edições, atualmente ocorrendo no primeiro fim-de-semana de agosto. É considerado uma espécie de carnaval fora de época, pois conta com um desfile pelo centro de Braga em que participam os grupos convidados com os seus passistas (sambistas) com as suas vestimentas impressionantes, que dançam ao som de ritmos de batucada e samba. Também participam os grupos convidados da parte do tradicional: grupos folclóricos, Pauliteiros, etc.
O grupo organizador aparece da origem de um grupo de Zés Pereiras e, inicialmente, tocavam apenas ritmos tradicionais portugueses, mais tarde foram adotando os ritmos de batucada e típicos do samba. Posto isto, realizar este festival fez todo o sentido pois, inicialmente, o grupo queria mostrar o trabalho realizado ao longo dos seus 11 anos, na altura. Assim, nasceu este festival que, na última edição, reuniu um público significante no centro de Braga e mais de 700 artistas convidados.
O primeiro dia do festival é dedicado à tradição portuguesa, havendo um destaque na cultura minhota mas também havendo atuações ou mesmo atividades de outras regiões ou mesmo a nivel nacional, como foi o caso da última edição, em que foram realizados jogos tradicionais, como a corrida de sacos, o jogo do pião, jogo da malha, entre outros. As atividades também englobam workshops musicais, como o de danças tradicionais portuguesas, dado pelo NEFUP, Núcleo de Etnografia e Folclore da Universidade do Porto. Enquanto decorrem estas atividades, as ruas da cidade estão a ser animadas por outros grupos, tais como a Tuna Universitária do Minho, a Tun’ao Minho, os Ida e Volta, entre outros.
Os workshops têm como objetivo divulgar o que está em causa, ou seja, no workshop dado pelo NEFUP, será divulgar as danças tradicionais portuguesas para o público para, consequentemente, as mesmas terem mais aderência e, no caso do festival, é uma aderência gratuita. Na última edição, foi acrescentada uma novidade, que foi a realização de um arraial minhoto, animado com música e danças tradicionais portuguesas representadas por dois grupos convidados: os Pauliteiros de Miranda, do Orfeão Universitário do Porto; e a Rusga de S. Vicente, grupo etnográfico do Baixo Minho.
A festa prolonga-se até ao anoitecer. Mais uma vez, a noite é dedicada a atuações dos grupos de música tradicional portuguesa, com a presença de todos os grupos convidados, onde há um convívio entre as duas vertentes. A abertura das atuações é realizada pelo grupo organizador, que toca somente a vertente tradicional e, de seguida, os grupos convidados. O segundo dia do festival, e como o nome indica, é dedicado à tradição brasileira e, tal como no primeiro dia, também são realizados workshops: o workshop de Samba, dado pela Rainha da Bateria da escola de samba Gres a Rainha; e o workshop de capoeira. Ambos, costumam ter bastante adesão. Bem como no primeiro dia, a animação de rua continua com a escola de samba Real Imperatriz, Unidos de Vila Régia, Gres a Rainha e os Batucada Radical.
Ao fim deste segundo dia, decorre o Monumental Cortejo de Carnaval Fora de Época, que começa no Arco da Porta Nova e vai até à Avenida Central. Este Monumental Cortejo de Carnaval Fora de Época é o ponto mais alto deste festival e é onde se juntam a cultura portuguesa e a brasileira. Após o cortejo, as atuações da noite prosseguem, tal como no primeiro dia.
Penso que seja um festival que é considerado parte da cultura e do nosso património pois o Do Bira ao Samba é um festival. O valor cultural e patrimonial carrega aspetos que não são encontrados nas festas populares. As festas populares concentram-se numa só cultura enquanto que o festival transmite e propaga duas culturas diferentes, no entanto, ligadas desde sempre.
Apesar disto, o festival encontra-se, neste momento, posicionado na categoria de desporto pela Câmara Municipal de Braga, visto que não se estava a dedicar tanto à cultura, em geral, mas sim à dança e à música. Nesta última, edição a organização colocou em prática, como já referido, um Arraial Minhoto, em que introduziram petiscos tradicionais, como o Caldo Verde, as pataniscas e as bifanas. Ao longo do arraial, houve animação, música e danças tradicionais, como manda a tradição. Incluiram também os jogos tradicionais, que obtiveram muita adesão, principalmente por parte dos pais que queriam apresentar aos filhos os jogos que praticavam na sua infância.

Patrícia Amorim Fernandes


Metodologia utilizada para a realização do artigo:
Pesquisa informática e através de conversas com vários entendedores das duas vertentes musicais, tendo como principal base, o meus conhecimentos e dos restantes organizadores sobre o festival.


(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional”, do curso de Mestrado em Património Cultural do ICS, a funcionar no 2ºsemestre do ano letivo de 2018/2019)

Sem comentários: