As
cidades (ou vilas) envolvidas no projeto Urbact “Re-grow City”, têm em comum o facto de terem passado por longos
processos de declínio populacional e económico. Além da acentuada perda e
envelhecimento da população, as dinâmicas económicas são cada vez menores,
tornando os territórios pouco atrativos.
A cidade alemã de Altena, líder e exemplo a
seguir neste processo de partilha de boas práticas, mudou de dirigentes
políticos em 1999, quando o democrata cristão Andreas Hollstein se tornou Mayor. Desde então, têm sido adotadas
uma série de medidas, com resultados considerados positivos e, por isso,
merecedores de serem replicados nas cidades que fazem parte deste projeto:
Melgaço (Portugal), Aluksne (Letónia), Idrija (Eslovénia), Igoumenitsa
(Grécia), Isernia (Itália), Manresa (Espanha), Nyírbátor (Hungria).
Como já referido na primeira parte deste artigo,
publicada no mês passado, o declínio da cidade de Altena, que conta atualmente
com cerca de 19.000 habitantes, está muito ligado a mudanças nos sistemas de
produção da indústria do aço, da qual a sua economia estava muito dependente.
Segundo os atuais líderes daquela cidade alemã, a
situação foi-se agravando com as respostas adotadas pelos políticos de então.
Para tentar contrariar os efeitos desta perda de postos de trabalho e de
atratividade da cidade, os governantes da cidade optaram por fazer
investimentos pesados em infraestruturas e equipamentos públicos, como
bibliotecas, escolas e piscinas.
Apesar daquele ser um período de forte capacidade
financeira, os gestores municipais acabaram por gastar mais do que podiam e deviam.
Havia a ideia de que quem viesse a seguir traria sempre mais dinheiro. Altena
acabou por ficar numa situação de grande endividamento. Na opinião do atual Mayor de Altena, não houve a capacidade
de efetuar nenhuma reflexão sobre a mudança que se impunha na forma de gerir.
Com o tempo, devido ao grande endividamento
criado naqueles períodos, Altena deixou de ter dinheiro para investir e as
infraestruturas começaram a ficar ultrapassadas. Em consequência, a imagem de
Altena decaiu e as cidades vizinhas aproveitaram a oportunidade para atrair os
jovens, o que acarretou um envelhecimento cada vez maior da população residente.
A principal prioridade do novo executivo
consistiu no equilíbrio das contas do município. Numa primeira fase, o próprio Mayor começou por enviar um sinal à
população, dispensando o mercedes e o motorista, passando a deslocar-se num VW
Polo que ele próprio conduzia.
Seguidamente, o Conselho Municipal aprovou uma
série de medidas impopulares, que passavam pelo encerramento de uma das duas
piscinas públicas, redução de um terço do número de funcionários municipais,
encerramento de duas escolas primárias, redução do número de vereadores, corte
nos subsídios aos clubes desportivos e grupos de idosos. Durante estes
períodos, foi promovido e incentivado o diálogo com a população, na busca das
melhores soluções.
Tendo surgido a vontade de arranjar a rua
principal e não havendo orçamento municipal para o efeito, a população,
políticos incluídos, uniu-se e voluntariou-se para arranjar a rua, com o seu
trabalho. Foi possível perceber que as pessoas eram capazes de se unir à volta
de um projeto comum.
Deste trabalho de envolvimento da população, foi
desenvolvido um projeto de apoio à terceira idade. Ao fim de dois anos a
trabalhar com toda a população, desde os mais idosos até aos mais novos,
tentando perceber o que poderia ser mudado na cidade, no sentido de criar
melhores condições para as gerações mais velhas, percebeu-se que as pessoas
gostavam e eram capazes de trabalhar juntas. A Câmara Municipal passou a ter um
papel de apoio à população, assumindo esta, através dos voluntários, a
iniciativa das ações.
No final de um processo de dois anos, nasceu uma
associação de voluntários, chamada “Stellwerk” (fábrica de aço), onde as
pessoas coordenam e criam ideias em regime de voluntariado. Esta associação,
que conta com o apoio de 500 a 1000 voluntários, assume hoje um papel cimeiro
na vida da cidade.
Por outro lado, a cidade tinha muitas lojas
vazias, devido à falta de clientes, à evolução do comércio eletrónico, assim
como à idade avançada dos proprietários dessas lojas. Havia vontade e
necessidade de gerar uma nova vida para a cidade e surgiu a ideia de trazer
novas pessoas para aqueles espaços, dando-lhes a oportunidade de
experimentarem, durante 8 semanas, abrir uma loja, com o apoio financeiro do
município. No final desse período podiam decidir fechar ou manter o negócio. Fruto
desta ideia, além das lojas que vão abrindo e fechando, pelo menos 5 ou 6 lojas
mantém-se abertas, no centro da cidade, até aos dias de hoje.
Estamos perante o conceito, hoje já mais
difundido, de “pup-up shop”. Em português, o verbo 'to pop up' significa
aparecer súbita e inesperadamente. É assim que funcionam estas lojas,
tendencialmente temporárias, que abrem as portas em lugares estratégicos e a
maioria desaparece pouco tempo depois. O principal objetivo é despertar a
curiosidade no público. Por outro lado, podem funcionar também como uma forma
de os lojistas ou investidores testarem a recetividade às suas ideias,
produtos, serviços.
Estamos assim na presença de dois vetores claros
e distintos de intervenção. Um deles focado no envolvimento da sociedade, com a
criação de associações ou ONG capazes de atuar nos territórios e influenciar os
seus destinos, e outra que se prende com a revitalização urbana, através da
criação de dinâmicas nos centros urbanos.
Uma das caraterísticas deste programa é que as
cidades e vilas envolvidas têm que escolher qual a vertente onde querem atuar,
no caso em concreto, promover o associativismo e o envolvimento da população,
ou avançar como medidas de incentivo às “pop-up shops”.
No caso de Melgaço, a opção recaiu nas “pop-up
shops”. Cabe agora aos envolvidos no projeto irem para o terreno, ouvirem os
proprietários das dezenas de lojas fechadas e perceberem a sua recetividade
para a ideia, ouvirem os potenciais lojistas, conhecerem as suas ideias e
necessidades.
Se devidamente ouvidas todas as partes
interessadas, se tivermos em linha de conta as expectativas de cada um e se
forem criadas as condições necessárias, poderemos vir a assistir a um impacte bastante
positivo na vida do centro urbano de Melgaço.
Jorge
Ribeiro
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia do Turismo”, de opção, lecionada a alunos de vários cursos de mestrado da EEG, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2018/2019)